domingo, 26 de junho de 2016

MÚSICA: UM BEZERRO DE OURO QUE NINGUÉM OUSA AFRONTAR



Engraçado... para tudo na vida, quando a oferta é exagerada, o valor naturalmente acaba caindo; exceto quando o papo é "música". Quantos programas musicais de calouros existem no mundo? certamente inúmeros. E no Brasil, quantos deles já foram e ainda são produzidos? Novamente, a resposta é "inúmeros", uma vez que toda emissora por aqui tem ao menos um desses programas.
   
E, então, vem a pergunta: em todos eles, quantas pessoas que inegavelmente sabem cantar (conforme a opinião popular) já apareceram? Quantos cantores com um potencial absurdo (conforme a opinião popular) já passaram por eles? No mínimo, centenas.
   
Onde quero chegar? Simples: o talento musical, segundo a concepção atual, não é algo raro e, portanto, não passa de um dom tão banal quanto, por exemplo, o do pedreiro (sendo que o pedreiro é extremamente útil à sociedade, além de ser muito mais exigido física e mentalmente do que um cantor.). Em outras palavras, estou dizendo que o canto é supervalorizado de uma forma doentia por uma civilização cada vez mais voltada ao que é egocêntrico.
   
De repente, inventaram o mito do "bom cantor segundo seu timbre" de modo a relativizar o dom do canto e abrir um leque maior de opções que leve a população a um estado cada vez mais profundo de alienação e idolatria. É por isso que, embora notadamente gente como Roberto Carlos, Caetano Veloso, Chico Buarque ou toda a turma da bossa nova jamais tenham tido qualquer talento vocal; não deixem de ser reverenciados como deuses, já que as gerações nas quais eles cresceram encontravam-se plenamente moldadas à ideia de que um bom cantor independe de potencial vocal.
   
Ora, até a idade moderna, nem mesmo alguém com a potência vocal de um Freddie Mercury era considerado alguma coisa. Além disso, os cantores, justamente por serem bons não segundo uma "audição subjetiva popular", e sim porque simplesmente sabiam cantar, eram figuras consideradas raras e indispensáveis em eventos da realeza.
   
Onde quero chegar? O reconhecimento do dom vocal de Andrea Bocelli é uma questão de gosto pessoal ou um fato? Ora, até um funkeiro consegue identificar música de verdade caso seja posto diante de uma. Do mesmo modo que um quadro de arte moderna todo rabiscado terá sempre sua subjetividade no chão quando posta ao lado de uma pintura realista, os cantores contemporâneos não passam de uma invencionice quando colocados ao lado de um cantor genuíno.
   
Em suma, não existem muitos cantores, e sim muitos cantores segundo o gosto de uma geração enganada por mentiras como, por exemplo, a de que o bom cantor é o que "toca" o coração (nada pode ser mais relativo do que isso.). Se esse monte de crianças e jovens mimados de ego inflado que aparentemente cantam muito fossem estimulados aos estudos, ao invés da música; teríamos gênios no que realmente presta entre a população. Se certos programas sensacionalistas pararem de dar espaço ao "fulaninho pobre que sonha ser como Luan Santana" e passarem a dar espaço ao "fulaninho pobre que sonha ser como Santos Dumont", teremos uma verdadeira revolução cultural. Todavia, para isso, é preciso fazer surgir quem sonhe ser como Santos Dumont. Quando isso acontecer, teremos a parcela rara de legítimos cantores ocupando o lugar que hoje lhes é roubado, e os pseudo-cantores trabalhando para o crescimento de seus respectivos países, bem como da civilização ocidental como um todo.


Leandro Pereira

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