Algo que, ironicamente, costuma ser pouco comentado quando se fala sobre a morte do Senhor Jesus - e que eu acho impactante - é a maneira como, de fato, Ele morreu.
E o centurião e os que com ele guardavam a Jesus, vendo o terremoto, e as coisas que haviam sucedido, tiveram grande temor, e disseram: Verdadeiramente este era o Filho de Deus. - Mateus 27:54
Na passagem acima, vemos que todos os militares presentes na ocasião reconheceram a divindade do Messias por conta das diversas ocorrências naturais e sobrenaturais que acompanharam o evento. Obviamente que, perante aquele festival de prodígios e maravilhas, cada um daqueles homens foi mais tocado por um fenômeno específico, sendo o caso de maior relevância dentre eles aquele que Marcos e Lucas se preocuparam em ressaltar: o do centurião. E sabem por que a reação do chefe da guarda foi algo tão especial? Ora, ao contrário dos demais, que se impressionaram com os sinais retumbantes à sua volta, aquele sujeito percebeu uma coisa que, embora sutil, foi sem dúvida a manifestação divina mais assombrosa daquele dia.
E, quando Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito. - João 19:30
E, clamando Jesus com grande voz, disse: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E, havendo dito isto, expirou. E o centurião, vendo o que tinha acontecido, deu glória a Deus, dizendo: Na verdade, este homem era justo. - Lucas 23:46,47
E o centurião, que estava defronte dele, vendo que assim clamando expirara, disse: Verdadeiramente este homem era o Filho de Deus. - Marcos 15:39
Perceberam? O que levou o centurião a concluir que Jesus é o Filho de Deus foi o fato do Senhor não morrer por causas naturais, e sim ter retirado a própria vida ao simplesmente se separar espiritualmente do plano físico. Em outras palavras, Cristo abandonou seu corpo (inclusive, uma segunda forma de traduzir, do grego, o verbo "entregar" empregue nos versículos acima, é "despedir). Quando presenciou aquele crucificado despachando explícita e conscientemente ao próprio espírito para, sob uma exatidão tremenda, falecer logo em seguida feito um ator que estivesse encenando uma peça teatral; o romano não exitou em concluir estar perante o cadáver do Rei dos reis. Não apenas isso, mas ele testemunhou uma pessoa no limite da exaustão e à beira da morte dar um grito cuja potência, por si mesma, só pode ser explicada ante a ideia de um prodígio sobrehumano.
E Jesus, dando um grande brado, expirou. - Marcos 15:37
E Jesus, clamando outra vez com grande voz, rendeu o espírito. - Mateus 27:50
Evidente que, considerando os terríveis ferimentos sofridos, Cristo iria morrer de qualquer maneira. Todavia, Ele fez questão de antecipar sua morte de modo miraculoso para provar o que já havia anunciado:
Por isto o Pai me ama, porque dou a minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai. - João 10:17,18
Infelizmente, este é um aspecto do sacrifício do Cordeiro que, embora impressionante (o bastante para converter um líder militar romano), acaba ignorado frente à banalização que suas muitas representações artísticas indiretamente promovem ao retratá-lo como um martírio semelhante a qualquer outro que já tenha acontecido. E, antes que alguém pense existir alguma apologia ao suicídio nisso, eu adianto: a vida que temos não é nossa, mas sim do Criador. Jesus, por outro lado, é o Príncipe da vida:
Eu sei, Senhor, que a vida do homem não lhe pertence; não compete ao homem dirigir os seus passos. - Jeremias 10:23
E matastes o Príncipe da vida, ao qual Deus ressuscitou dentre os mortos, do que nós somos testemunhas. - Atos 3:15
Definitivamente, devemos ver a páscoa com o olhar daquele centurião, que não apenas conseguiu identificar a plenitude divina naquela figura aparentemente derrotada perante si, como o fez sob a certeza de que se encontrava diante do único capaz de vencer a morte, incluindo a de todos os que se aventurarem a reconhecê-lo como Filho de Deus.
Leandro Pereira