quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

COMO A REJEIÇÃO AO DISPENSACIONALISMO LEVARÁ PESSOAS A RECEBEREM A MARCA DA BESTA


Achei bem interessante uma observação que o Bryan Delinger fez em um de seus vídeos mais recentes, onde mostrou a maneira como o não-dispensacionalismo poderá levar os cristãos da Tribulação a aceitarem a marca da besta. O raciocínio é muito simples. Vamos acompanhá-lo:
O não-dispensacionalismo (midi-tribulacionismo, pós-tribulacionismo e pré-ira) não crê em dispensação, logo entende que o período da Tribulação se dará sob a dispensação atual, isto é, sob os mesmos princípios espirituais da Era da Igreja. Eles não compreendem que elementos como, por exemplo, a operação do erro enviada por Deus para impedir que os seguidores do Anticristo não se convertam (semelhante ao que foi feito com o coração de faraó em Êxodo), ou a característica vingativa inerente ao ministério das duas testemunhas se darão justamente porque o mundo já não estará mais debaixo da Graça. Chegamos, desse modo, ao "X" da questão: os não-dispensacionalistas acreditam que o crente em Cristo não perde a salvação em hipótese alguma (o que concordo plenamente). Todavia, a soma dos 2 itens mencionados acima (dispensação única + salvação permanente) acaba abrindo precedente para que certas pseudo-contradições ganhem terreno junto aos céticos, sendo que apenas o dispensacionalismo pode solucioná-las com pleno sucesso. Vamos debatê-las um pouco:



1- A Palavra deixa claro que, durante a última semana da profecia de Daniel, os crentes poderão perder sua salvação. Três passagens dos Evangelhos nos dizem que "aquele que perseverar até o fim será salvo" (Mateus 10.22; 24.13/ Marcos 13.13). Embora o "perseverar" do texto possa se referir também a uma perseverança contra perseguições no plano físico, as passagens que comentarei a seguir tornam perfeitamente plausível uma perseverança para ser espiritualmente salvo (quantas vezes o Novo Testamento usa o termo "salvação" e seus derivados para algo que não seja a vida eterna?). É interessante observarmos que, em Apocalipse 14.12, logo após o anjo discursar sobre a pena que sofrerão aqueles que optarem pela marca da besta, é dito: "Aqui está a paciência dos santos (...)". E então, Apocalipse 14.12 nos remete ou não a Mateus 10.22; 24.13 e Marcos 13.13? Ainda não estão convencidos? E se eu te disser que a perseverança citada nos Evangelhos, no grego, significa paciência? Isso mesmo: a paciência mencionada por Cristo ao tratar dos tempos finais, curiosamente aparece no Apocalipse contextualizada numa declaração acerca daqueles que não resistem à marca da besta. Por sinal, é assim que a Bíblia LTT (a única em língua portuguesa com tradução literal) traduz esses versículos:
E sereis odiados por todos, por causa de o Meu nome; aquele, porém, que tem pacientemente- suportado até [o] fim, *ele* será livrado.- Mateus 10.22
Aquele, porém, havendo pacientemente- suportado até [o] fim, *o mesmo* será livrado.- Mateus 24.13
E estareis sendo odiados por todos [os homens], por causa de o Meu nome; quem, porém, tem pacientemente- suportado até [o] fim, *esse* será livrado.- Marcos 13.10
2- O livro de Hebreus, por duas vezes, mostra a possibilidade de crentes perderem sua salvação (6.4-6, 11; 10.26-27), porém o fato da carta estar endereçada não a gentios, e sim a cristãos hebreus (não confundir com "judaizantes") explica facilmente a questão, já que o período da Tribulação será regido por uma nova dispensação, cujo objetivo primário será a restauração espiritual de Israel (e, mudando a dispensação, alteram-se as regras espirituais).
3- O capítulo inteiro de 2 Pedro 2 fala sobre líderes cristãos que se desviam e passam a ensinar abominações às ovelhas (percebam, inclusive, que duas das analogias usadas pelo apóstolo no texto falam sobre juízo. Todas duas, aliás, foram utilizadas por Jesus em Lucas 17 exatamente para tratar da época de sua volta). As epístolas de Pedro, assim como Hebreus, foram escritas para cristãos hebreus, visto que, logo no versículo 1 de I Pedro; o texto se refere "aos estrangeiros (ou peregrinos) dispersos no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia". Como sei que esses estrangeiros são hebreus? Ora, o povo que, naquela época, encontrava-se simultaneamente estrangeiro nas regiões descritas eram os judeus, e esse fenômeno se deu justamente pelo evento histórico da "diáspora" (palavra cujo significado é "dispersão"). Além disso, não é segredo que o ministério de Pedro fosse focado na evangelização dos judeus.
4- Por fim, vemos em 2 Tessalonicenses 2.10-12 que, durante o reinado do filho da perdição, Deus enviará a chamada "operação do erro" para aqueles que servirem ao Anticristo, de modo que não possam salvar-se. Percebam: a operação do erro vem não antes deles firmarem seu compromisso com o engano. Diante disso, eu indago: qual será o pacto que selará a aliança dos homens com o Anticristo? Precisamente aquele que será capaz de anular a salvação daqueles que estiverem vivendo na dispensação da Tribulação: a marca da besta.



Ora, o que impedirá os não-dispensacionalistas presentes na Tribulação de ensinarem que a marca da besta pode ser recebida tranquilamente, visto que salvação não se perde? Acham que estou indo longe demais? Que tal, então, nos lembrarmos de que existe um segmento dentro do fundamentalismo batista que prega o conceito de que o salvo possa levar uma vida de devassidão? Apenas para que tenham uma ideia, segundo tais "igrejas", Raul Seixas (que notoriamente morreu nas drogas e no ocultismo) era um nascido de novo e, portanto, está agora no céu pela simples razão de que, durante parte de sua adolescência, frequentou uma igreja batista. Detalhe: algumas dessas "igrejas" são até mesmo pré-tribulacionistas e, dada a aberração pregada em seu meio, dificilmente boa parte deles não estará por aqui após o arrebatamento. Contudo, por mais hereges que sejam, ao menos terão o entendimento dispensacional a seu favor quando se encontrarem perante "a tentação que há de vir sobre todo o mundo". Que fique claro, não estou pré-determinando o caráter espiritual individual de cada um aqui por conta de sua escatologia. Prefiro mil vezes um pós-tribulacionista que pregue sobre santidade a um pré-tribulacionista depravado. Minha crítica é direcionada tão somente à doutrina.
Uma escatologia que, ao ser posta como transparência sobre o livro do Apocalipse, nos mostra que compactuará indiretamente com os planos do Anticristo; certamente não pode ser biblicamente sadia. Os não-dispensacionalistas da Tribulação não terão qualquer razão lógica dentro daquilo que professam para temerem à marca da besta. Provavelmente ensinarão que a marca só afetará àqueles que não têm Jesus. Provavelmente, inclusive, se utilizarão de textos como I Coríntios 10.25-31 para ratificarem sua ortodoxia. Se isso não é uma boa razão para mantermos os dois pés atrás com qualquer ensino que rejeite o livramento dos cristãos da última semana de Daniel, não sei o que pode ser.



Leandro Pereira

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