domingo, 21 de janeiro de 2018

O QUE NINGUÉM DIZ SOBRE OS ASSÉDIOS EM HOLLYWOOD



O que mais em irrita na questão sobre as acusações de assédio sexual em Hollywood, assim como o debate que isso tem gerado por aí, é o cinismo com o qual o tema é tratado. Talvez por esta razão até agora eu não tenha me manifestado a respeito, pois realmente dá preguiça de falar sobre algo cuja discussão joga para baixo do tapete o que há de mais grave enquanto mantém seu foco apenas nas obviedades.
Ora, ao martelar dia e noite que homens não podem assediar mulheres, a imprensa ignora que mulheres também não devem ser passivas quanto ao assédio. Ao trabalhar pautas que busquem identificar o que configura, de fato, um assédio; a TV automaticamente retira a responsabilidade das costas da assediada (como se uma mulher pudesse não saber quando está sofrendo um assédio), o que por tabela fornece um pretexto imbatível à muitas que claramente se aproveitaram bastante de tal condição.
A conversa, portanto, já parte do ponto errado, uma vez que finge não existir uma palavrinha chamada "dignidade" e considera possível que uma mulher correta se submeta a ter sua honra violada em troca de dinheiro. Até parece que falei de prostituição agora, não é mesmo? E se eu disser que a mesma mídia que despreza este elefante branco é aquela que não só glamouriza a prostituição em suas produções dramatúrgicas, como afirma que não podemos julgar uma prostituta por sua escolha? Na verdade, a prostituição tornou-se moralmente mais elevada do que qualquer outra profissão, visto que é defendida sob o sofisma de que seus profissionais estão se sacrificando por falta de oportunidade e, na maioria das vezes, jogando-se na lama para servirem de ponte aos seus familiares. Ora, se qualquer prostíbulo de beira de estrada virou um lugar repleto de vítimas sociais cheias de virtude que lutam bravamente para sobreviverem; por que logo Hollywood será demonizada?
Definitivamente, mulheres de bem não negociam com assediadores seja lá qual for o valor em jogo. Mulheres de bem catam latinhas com sua prole ao redor, mas não permitem que estranhos apalpem seus traseiros uma segunda vez.
Antes de condenarmos assediadores, que tal revermos os valores que norteiam o ambiente no qual os assédios se dão? Por que não nos perguntamos como isso acontece entre pessoas tão preocupadas com a salvação do planeta, o empoderamento feminino e a liberdade do próximo? E por que não nos perguntamos, repito, como uma moça honrada consegue fazer uma carreira inteira dando sorrisinho para as câmeras e promovendo uma indústria onde ela e tantas outras "estão sendo barbaramente abusadas"?

Leandro Pereira

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