sábado, 7 de abril de 2018

JOHN WYCLIFFE: TERREMOTOS, TROVÕES E NENHUM DOM EXTRAORDINÁRIO...


Neste momento em que presenciamos um predomínio pentecostal no meio evangélico, eu pergunto: qual dessas inúmeras pessoas que alegam possuir os mesmos dons extraordinários característicos da Era Apostólica já conseguiu, sob evidências inegáveis de uma atuação sobrenatural divina, provocar algum impacto relevante à causa do Evangelho na sua vizinhança? Na Baixa Idade Média, houve um homem que conseguiu isso, porém com "um pouco" mais de alcance; visto que ele não somente mudou os rumos de sua nação, como de todo o mundo. Não, não estou me referindo a Lutero, que obteve suas conquistas sem evidências inegáveis de uma atuação sobrenatural divina, e sim mediante ações notoriamente políticas e academicistas.
Falo de John Wycliffe, o instrumento usado pelo Criador para que, três séculos depois, o reformador alemão encontrasse um solo já arado, repleto de sementes e que só necessitasse ser regado. Contudo, ao menos para mim, a importância maior na proeza daquele inglês repousa não em plantar as bases da Reforma, uma vez que reconheço a existência de igrejas estruturadas de modo genuinamente bíblico (todas perseguidas pela igreja católica, obviamente) antes do advento protestante. Ao bater de frente com o papa, o teólogo pegou uma verdade abafada que era propagada somente entre pequenos grupos marginalizados e à expôs explicitamente perante a sociedade organizada de sua época, que se encontrava majoritariamente cegada de modo compulsório para as Escrituras.
O termo "sola scriptura", que é o lema do protestantismo, foi inaugurado, na prática, através dos artigos de Wycliffe, cujo foco residia na inutilidade da tradição romana (e de qualquer outra fonte extra-bíblica) frente à Palavra de Deus. E não para por aí: o sujeito também desprezou a eucaristia, negou que a seita romana fosse a cabeça de todas as igrejas, rejeitou à soberania papal e criticou severamente à tirania contra aqueles considerados hereges, bem como a união entre igreja e Estado (algo que, se hoje é chover no molhado, na Inglaterra do século XIV era praticamente suicídio). Por muito pouco, inclusive, não tivemos a Reforma nos dias de Wycliffe, já que sua intrepidez provocou uma explosão tão grande do Evangelho que começaram a pipocar em tudo quanto é canto pregadores independentes; igrejas domésticas, urbanas e florestais; escolas bíblicas domésticas, urbanas e florestais; produção literária evangélica; e música didática evangélica (sim, pode-se afirmar que os primeiros hinos protestantes surgiram aqui); ou seja, foi melhor do que a Reforma, por isso mesmo não prevaleceu.
O mais interessante vem agora: no dia em que a nata do catolicismo inglês se reuniu num convento dominicano para condenar à obra literária de Wycliffe, exatamente no horário de início das deliberações, o país inteiro foi sacudido por um forte terremoto. Numa outra ocasião, quando os sacerdotes romanistas se ajuntaram numa igreja para conspirarem contra o teólogo, a porta do lugar foi fendida por um raio. Percebem aonde quero chegar? Quando se viu o teólogo inglês falando em algaravias, profetizando, ou reclamando para si o poder de cura? Aquele indivíduo viveu numa época em que nem mesmo havia protestantismo, muito menos pentecostalismo. Todavia, quem será louco de falar que ele não era cheio do Espírito Santo ou que notam-se sinais flagrantes da presença do Altíssimo naquela vida? E quem é o "varão tão cheio de fogo e poder" atualmente que é usado por Deus como foi o cessacionista Wycliffe?

Leandro Pereira

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