sexta-feira, 22 de julho de 2016

UMA PENTECOSTAL COM DÚVIDAS SOBRE TRADUÇÕES BÍBLICAS: UM BELO EXEMPLO DA MANEIRA COMO ESTE SEGMENTO PODE EMBURRECER O CRISTÃO

   



Recentemente, uma pentecostal a quem muito considero veio até mim para pedir informações acerca da melhor tradução bíblica em português, pois estaria para ganhar uma Bíblia nova de presente de uma irmã da igreja que havia lhe pedido que escolhesse. A princípio, achei estranha a "consultoria", pois quem me conhece está careca de saber que tenho um canal no Youtube com vários vídeos a respeito, além de uma página no Facebook voltada especificamente para este tema (isso sem falar nas muitas indicações de vídeos e artigos sobre a defesa da preservação canônica que faço na minha página pessoal.). Em outras palavras, o natural seria a pessoa em questão, mesmo que sempre tenha ignorado meu trabalho na área, correr atrás do material que já expus ou das muitas postagens que sempre a enviei. Todavia, não que isso tivesse me irritado, afinal de contas, sei que é normal, no meio pentecostal, o desinteresse pelo estudo das Escrituras; bem como é normal no "meio humano" nos importarmos somente com aquilo que bate à nossa porta.
   
Então, tivemos várias trocas de e-mail onde respondi com grande satisfação a cada um deles (é um prazer sem igual poder ser útil a alguém com dúvidas, principalmente quando se trata da Palavra de Deus.). Primeiramente, ela demonstrou inclinação em pedir uma Bíblia de Jerusalém de presente. Pacientemente, lhe expliquei que se trata da tradução com o maior número de acréscimos, decréscimos e alterações existente na língua portuguesa; lhe passando, em seguida, alguns artigos bem contundentes retirados do Sola Scriptura TT que é, de longe, o melhor site brasileiro de estudo bíblico. Influenciada por um outro indivíduo, ela demonstrou vontade de optar por uma Peshitta, pois o tal sujeito defende a tradução siríaca como "a mais próxima" da redação original. Eu respondi explicando que não defendo a existência do texto bíblico "mais próximo do original", e sim a existência do "texto bíblico original (linhagem bizantina.)". Desse modo, mostrei à ela um pouco do que conheço sobre as origens da Peshitta, ou seja, que ela foi corrompida a partir do século III e que, antes disso, nunca teve nem mesmo o cânone completo entre suas cópias. Por fim, indiquei um site americano que trata da questão.
   
Após ouvir mais um pouco do outro rapaz, ela voltou a mim. Agora, trazendo o link de um blog especializado na Peshitta e me pedindo para dar uma olhada. Eu dei uma olhada e retornei expondo um texto do próprio site admitindo tudo sobre a Peshitta que eu já havia dito anteriormente, pois, uma vez que eles não defendem a preservação do texto bíblico original em nossos dias, não há pudor algum em assumirem que a Peshitta, de fato, é adulterada. Ela pediu que eu entrasse em contato com eles para "trocar figurinhas", no que respondi que não há como trocar ideias com quem acha que 4 ou 5 manuscritos distintos entre si são superiores a mais de 5000 que apresentam uma coesão assombrosa. Também lhe recomendei 4 links de excelentes palestras exclusivamente a respeito deste tópico (pois percebi que ela estava querendo informações sobre um assunto cujo básico lhe era desconhecido ainda.), e, após tantos emails, tanta atenção dispensada, tantas evidências trabalhadas e tanto material indicado; qual foi a resposta final que obtive?- "Vou orar a Deus e pedir que o Espírito Santo me indique a tradução mais correta." No final, ainda declarou estar cansada de crentes que se apegam a detalhes doutrinários e citou I Coríntios 1.20 como sendo um versículo que se aplique a cristãos estudiosos das Escrituras; quando na realidade até um recém-nascido pode ler que o texto fala sobre os intelectuais mundanos (diga-se de passagem, 2 versículos depois Paulo critica os que "andam por sinais"; mas certamente esse trecho ela não leu. Exigir que esse pessoal leia capítulos inteiros é pedir demais, não é mesmo?). Nessas horas, a própria pessoa não percebe estar criando uma baita contradição na Bíblia, já que várias outras passagens que lhe são desconhecidas (provavelmente por não ser interessante à sua igreja ensinar a respeito.) claramente exortam os crentes a estudarem cada vez mais a Palavra de Deus.
   
Estão vendo só? É por isso que sempre direi: o maior problema do meio evangélico hoje se chama "pentecostalismo". Elimine esta praga do cristianismo moderno e verá, do dia para noite, 90% das heresias que enganam multidões em nosso meio desfeitas. Automaticamente, verá também cristãos mais coerentes, sensatos e que não usam o Espírito Santo como muleta para sua preguiça e desinteresse quanto a um conhecimento da Palavra de Deus que ultrapasse os versículos isolados, os achismos e os chavões. Detalhe: esta pentecostal que me procurou não é uma pessoa sem instrução ou alienada; e sim alguém com curso superior e bastante consciente quanto ao mundo à nossa volta.
   
Só estou mencionando este caso para que percebam que, enquanto a raiz do problema não for eliminada, será sempre murro em ponta de faca. Enquanto os sintomas da doença forem tratados ao invés de sua causa; a enfermidade será constante. Temos aí uma pentecostal que, assim como tantos outros de seu meio, é muito inteligente e demonstra até mesmo alguma boa vontade para com a Palavra de Deus; porém acaba tendo a verdadeira chama do Espírito Santo apagada por esse misticismo repleto de conveniências e comodidades que somente a distancia da Revelação que o próprio Altíssimo inspirou entre os homens. 
   
Leandro Pereira

3 comentários:

  1. Antes de mais nada, é necessário entender que bizantino diz respeito ao tipo mais recente de texto, caracterizado em sua grande maioria pelos unciais (maiúsculos), semi-unciais e minúsculos gregos do Novo Testamento[2]. Ele também é o tipo de texto encontrado na Peshitta Siríaca, nas versões góticas e nas extensas citações dos pais da igreja[3], a partir de Crisóstomo.

    Seu nome provém de onde se origina a maioria dos manuscritos desse tipo - o Império Bizantino. É nele que se baseia, entre outras, a versão da Bíblia para a língua portuguesa feita por João Ferreira de Almeida e publicada pela Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.

    O texto bizantino nem sempre tem gozado de prestígio, em especial pelo seu principal representante: o textus receptus (a segunda edição impressa do Novo Testamento grego preparada por Boaventura e Abraão Elzevir, na Holanda, em 1633). A maior parte dos estudiosos concorda em afirmar ser o textus receptus oriundo de manuscritos gregos medievais, em sua maioria bizantinos. Contudo, eles o criticam por acharem que se encontra demasiadamente distante dos autógrafos.
    A rejeição ao textus receptus, porém, não foi unânime entre os eruditos, sendo que algumas vozes, como a de John William Burgon,[6] levantaram-se e criticaram veementemente as teorias de WH. A partir de então, destacaram-se duas linhas principais e diametralmente opostas com relação ao texto bizantino: aquela partidária de WH e a que acatava os posicionamentos de Burgon.

    Uma terceira atitude envolve o que se poderia chamar de abordagem eclética — a não preferência por nenhum tipo particular de texto e o não favorecimento de qualquer manuscrito. Aqueles que lançam mão desse método tendem a considerar as diversas variantes existentes, independentemente de sua origem. O julgamento é feito no nível das variantes, com base em critérios internos, tencionando identificar o texto mais próximo do original. Este tipo de abordagem, ainda que tente incluir as diversas variantes existentes, revela-se certamente subjetivo, pois, de certa forma, fica a critério do exegeta a escolha das variantes.

    Todavia, mesmo em meios ecléticos, o texto bizantino não tem sido levado em consideração pela maior parte dos críticos. Considere-se, a título de exemplo, a posição de J. Harold Greenlee, o qual, mesmo admitindo a possibilidade de, em alguns casos, as leituras bizantinas não deverem ser rejeitadas automaticamente (sem um exame acurado), escreve: “...a impressão geral dada por variantes fundamentalmente bizantinas é de caráter inferior e, provavelmente, não original”. (GREENLEE, 1964: 91.)

    A crescente ascensão da abordagem eclética, vinculada à também crescente ênfase nos critérios internos para escolha de variantes, tem feito surgir uma boa dose de desencanto com relação aos principais elementos das teorias de WH, não obstante o texto bizantino ainda continuar sendo genericamente desconsiderado.

    O senhor diz que a Peshitta não é boa, sendo que ela deriva da Bizantino.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Meu querido, a Peshitta "foi" boa. Contudo, conforme os próprios defensores dela concordam, ela foi modificada a partir do ano 150, de modo que hoje não há mais qualquer registro da original(que, por sinal, era um cânone aleijado.).

      Quanto ao fato dos manuscritos Receptus datarem de uma época muito posterior aos autógrafos, isso somente aponta sua boa reputação ao longo do tempo, uma vez que todo papel que é muito utilizado, rapidamente se desgasta e exige que seu dono o copie ; coisa que sabemos não ter ocorrido com os códices vaticanus e sinaiticus, que só sobreviveram por um longo tempo pelo simples fato de que foram desprezados pelos estudiosos de sua época(e algumas análises simples apontam o número monstruoso de falhas que ambos contém.).

      O critério do exegeta não é subjetivo, e sim amparado pelas constantes promessas divinas que as próprias Escrituras exibem acerca da preservação de cada palavra e, em seguida, pelo que a maioria dos manuscritos nos mostra primeiro pelo filtro do Texto Majoritário, depois pelo filtro da tradição bizantina e, finalmente, pelo filtro da família 35 de cópias bizantinas. Subjetivo é acharmos normal a existência de várias cópias diferentes com trechos acrescentados, excluídos e postos entre parênteses referentes à uma leitura que o próprio Criador tratou de produzir.

      Excluir
  2. Caros irmãos de humanidade, se me permitem uma opinião sobre o tema, não sendo eu um expert, teólogo, católico, pentecostal, e nem religioso.
    Se realmente alguém está na busca da interpretação de algo, me parece uma busca pessoal e de inspiração interna e dessa forma penso q o caminho q tomar no intuito de procurar a verdade, ela não se furtará de vir a seu encontro, mesmo q o peregrino Tomé um caminho q para ele foi errado, serviu-lhe de experiência de aprendizagem é amadurecimento. Voltando ao texto bíblico, a própria bíblia hebraica e a versão dos 70 em grego se não me engano foi retraduzida em 2014, e isso não pressupõe adulteração ou corrupção dos códices(sinaítico, de Jerusalém, dos montes urais na russia, etc) e mais de 2000 documentos de onde foram tomadas, esse movimento me parece ser de um caminho de volta, exatamente da interpretação q aparentemente não fazia sentido e por isso foi sugerido ao julgamento crítico e linguístico dos tradutores e diversos concilios. A melhor forma de se chegar a um texto primitivo seria buscar ao máximo o texto grego sem traduções, e talvez iniciar pelo livro de Lucas q já foi escrito em grego, pq i mesmo era letrado e sua língua vernácula era o grego, os demais foram traduzidos do aramaico e hebraico para o grego. Em minha opinião. Existe uma outra intrincada forma, q me parece ocultada aos olhos dos profanos, q é a base numerológica do hebraico, onde cada letra tem um valor numérico e se relaciona sempre com a métrica dos versículos correspondentes... De forma q um erro ou troca de palavras ficaria evidente por não corresponder a chave numérica do trecho.

    ResponderExcluir