terça-feira, 24 de abril de 2018

FALANDO SÉRIO SOBRE APOCALIPSE 12 - PARTE 5


Na preparação original do matrimônio judaico, o jovem fazia uma visita à casa de sua pretendente para, perante a família dela, pedi-la em casamento. Então, após ela aceitar à proposta, o noivo pagar ao seu sogro o preço (dote) posto sobre sua amada e o casal ser declarado "marido e mulher", o noivo pronunciava um anúncio solene de que voltaria à casa de seu pai para preparar um lugar para sua esposa. Somente após o tal lugar ficar pronto é que, sob autorização de seu pai (que verificava se tudo estava realmente preparado) é que, enfim, ele retornava para buscar sua noiva. Entretanto, não havia qualquer prazo estipulado para essa volta. Se alguém perguntasse ao noivo quando seria seu retorno, tradicionalmente ele responderia da seguinte forma: "Ninguém sabe, exceto o meu pai". Há sim, um tempo fixado para a lua de mel no "lugar preparado". Esse lugar é chamado de Chaddar (câmara) ou Shoupah (cama de lua de mel), ambos significados que remetem a um quarto de núpcias. Contudo, não um quarto de núpcias comum, e sim um cômodo plenamente abastecido de provisões que permitiam ao casal passar uma semana trancado dentro dele sem necessitar de nada. Repetindo: após retornar e levar sua noiva para a casa de seu pai, o noivo se trancava com ela no lugar preparado, que consistia num aposento provido de tudo (água, comida, roupas, banheiro...). Isso lhes permitia desfrutar dos 7 dias de lua de mel definidos na tradição judaica sem que precisassem interagir com o resto da sociedade. Somente após findar a semana de núpcias é que, finalmente, os noivos saíam da câmara para que a festa de casamento tivesse início. Mais informações sobre o tema podem ser conferidas no livro As Festas Judaicas do Antigo Testamento, do Dr. Grady Shannon McMurtry.

Tudo o que relatei acima é extremamente instigante, porém quero me ater somente a um pequeno detalhe citado: o fato de, originalmente, o noivo levar sua noiva para um aposento da casa de seu pai chamado "câmara" ou "quarto de núpcias", pois isso remete direto a João 14.2-3, em que se encontra uma declaração áurea acerca do arrebatamento:

Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar. E quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também.

E a coisa só fica ainda mais interessante quando lemos estes mesmos versículos na Bíblia LTT (Bíblia Literal do Texto Tradicional), cuja tradução para "moradas" coincide, por sinal, com a da King James Fiel: "mansões". Creio que a passagem acima seja um belo exemplar do tamanho do amor que Deus nutre por seus filhos. Aquilo que, na Terra, se dá através de um cômodo numa casa, no céu se dará numa mansão. 

Livrou-me do meu inimigo forte e dos que me odiavam, pois eram mais poderosos do que eu.
Surpreenderam-me no dia da minha calamidade; mas o Senhor foi o meu amparo. 
Trouxe-me para um lugar espaçoso; livrou-me, porque tinha prazer em mim. - Salmos 19.17-19

Um livramento do dia da calamidade onde a pessoa é levada para um lugar espaçoso. O que isso lembra mesmo, hein? 

Invoquei o Senhor na angústia; o Senhor me ouviu, e me tirou para um lugar largo. - Salmos 118.5

Retirada da angústia para "um lugar largo". Muito interessante, não?

Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos, e fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te só por um momento, até que passe a ira. - Isaías 26.20 (ACF)

Isaías 26.17-21 talvez seja a passagem mais clara de toda a Escritura sobre o arrebatamento, pois demonstra passo a passo como ele se dará (é importante salientar que, do capítulo 24 em diante, o livro de Isaías é conhecido como "o pequeno Apocalipse de Isaías", visto realmente tratar dos tempos finais). Nela, além de vermos "para variar" a menção a uma grávida com dores de parto, presenciamos de forma explícita à ideia de pessoas sendo abrigadas em quartos. Inclusive, a King James traduz os tais quartos como câmaras, que nada mais é que o Chaddar para onde o noivo levava a noiva no casamento judaico original.

Como a mulher grávida, quando está próxima a sua hora, tem dores de parto, e dá gritos nas suas dores, assim fomos nós diante de ti, ó Senhor! Bem concebemos nós e tivemos dores de parto, porém demos à luz o vento; livramento não trouxemos à terra, nem caíram os moradores do mundo. Os teus mortos e também o meu cadáver viverão e ressuscitarão; despertai e exultai, os que habitais no pó, porque o teu orvalho será como o orvalho das ervas, e a terra lançará de si os mortos. Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos, e fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te só por um momento, até que passe a ira. Porque eis que o Senhor sairá do seu lugar, para castigar os moradores da terra, por causa da sua iniqüidade, e a terra descobrirá o seu sangue, e não encobrirá mais os seu mortos.

Vamos destrinchar à passagem acima: 1- Israel se compara a uma mulher com dores de parto ("assim fomos nós diante de ti, ó Senhor"). 2- Ela dá à luz o vento. Ora, vento em hebraico é "ruach", que se aplica também ao Espírito Santo. Não à toa, o Espírito Santo sobe com a igreja no arrebatamento (nada mais lógico, já que estamos falando do "corpo de Cristo"). Aliás, o sentido de "ruach" aplicado aqui (vento) nos remete a um arrebatamento muito famoso: E sucedeu que, indo eles andando e falando, eis que um carro de fogo, com cavalos de fogo, os separou um do outro; e Elias subiu ao céu num redemoinho. - 2 Reis 2.11. 3- Agora, ele começa a detalhar o arrebatamento: primeiro, a ressurreição dos mortos (e sabemos não ser a de Mateus 27 ou qualquer outra que não seja a do arrebatamento porque o próprio Isaías se inclui no evento). 4- Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos, e fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te só por um momento, até que passe a ira. - Precisa comentar este trecho? 5- Por fim, acontece a ira simultânea do Pai sobre o mundo. Detalhe: é dito que a terra não encobrirá mais os seus mortos. É precisamente isso o que vemos em Apocalipse 20.13: E deu o mar os mortos que nele havia; e a morte e o inferno deram os mortos que neles havia; e foram julgados cada um segundo as suas obras.

Agora, se tem uma sentença misteriosa nas Escrituras, ela é, sem dúvida, a segunda oração presente em Oséias 4.16. 

Porque como uma novilha obstinada se rebelou Israel; agora o Senhor os apascentará como a um cordeiro num lugar espaçoso.

Evidente que, historicamente, o versículo se refere à idolatria que tomou conta de Israel e teve na invasão assíria a personificação do juízo divino sobre eles. Contudo, creio que haja um forte teor profético em sua segunda sentença que está diretamente ligado ao arrebatamento, pois seria no mínimo estranho que Deus estivesse se referindo aos próprios israelenses corrompidos ao declarar que os apascentaria como a um cordeiro num lugar espaçoso, principalmente quando lemos no capítulo seguinte: Então irão com os seus rebanhos, e com o seu gado, para buscarem ao Senhor, mas não o acharão; ele se retirou deles (Oséias 5.6). É tão complicado fornecer uma solução a essa aparente contradição, que várias traduções bíblicas chegam ao cúmulo de criminosamente interpretarem o versículo, ao invés de traduzi-lo. Eis alguns exemplos de alterações promovidas por elas:

Os israelitas são rebeldes como bezerra indomável. Como pode o Senhor apascentá-los como cordeiros na campina? - NVI

O povo de Israel é teimoso como uma vaca brava. Não posso cuidar do meu povo como um pastor cuida das ovelhas num pasto grande. - NTLH

Como vaca rebelde, se rebelou Israel; será que o SENHOR o apascenta como a um cordeiro em vasta campina? - ARA

Pois Israel se tornou obstinado igual a uma vaca obstinada. É agora que Jeová os pastoreará como a um carneirinho num lugar espaçoso? - TNM

O povo de Israel é rebelde e teimoso como uma bezerra selvagem. Como poderá Yahweh
apascentar sua gente como cordeiros na campina? - KJA

Isso se chama desonestidade intelectual ou, se preferir, blasfêmia. Eu poderia muito bem me apropriar de qualquer uma das traduções acima para facilmente validar o que direi aqui, porém sempre preferirei lidar com aquilo que o próprio Deus disse, não com ajustes humanos carregados pela pretensão de aperfeiçoar o que o Criador inspirou. O fato é: Oséias 4.16 aparenta sim, uma contradição. Todavia, só um idiota creria na existência de uma contradição ocorrida dentro de um mesmo versículo bíblico, de modo que a única coisa que nos resta é aceitar a estranheza do texto e trabalharmos em cima do material que o próprio nos fornece. Para isso, precisamos partir do início do capítulo referido, cujos três primeiros versículos se referem aos gentios. Logo no versículo 1, Deus fala sobre uma Terra completamente desprovida de verdade, benignidade e conhecimento de Deus.

Ouvi a palavra do SENHOR, vós filhos de Israel, porque o SENHOR tem uma contenda com os habitantes da terra; porque na terra não há verdade, nem benignidade, nem conhecimento de Deus.

Isso bate precisamente com a descrição fornecida por Amós acerca da Terra no período da Tribulação, isto é, após o arrebatamento que retira os pregadores do Evangelho do planeta (lembre-se: na Tribulação, a salvação não se dará pela conversão a Cristo, e sim pela negação à marca da besta e pelo apoio a Israel).

Eis que vêm dias, diz o Senhor DEUS, em que enviarei fome sobre a terra; não fome de pão, nem sede de água, mas de ouvir as palavras do SENHOR. E irão errantes de um mar até outro mar, e do norte até ao oriente; correrão por toda a parte, buscando a palavra do Senhor, mas não a acharão. - Amós 8.11-12

Percebeu? Na Terra citada por Oséias, não há verdade. Segundo as próprias Escrituras, a verdade é...

Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade. - João 17.17

Além disso, Oséias reforça não haver conhecimento de Deus. Não duvido que seja por causa da atuação do Anticristo, bem como pelo simples fato de que entre o arrebatamento e a selagem dos 144 mil judeus não haverá qualquer conversão ao Evangelho no planeta (sim, o conhecer a Deus, nas Escrituras, não diz respeito a ouvir falar, e sim a novo nascimento).

O qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus. - 2 Tessalonicenses 2.4

E, como eles não se importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convêm; - Romanos 1.28

Mas, quando não conhecíeis a Deus, servíeis aos que por natureza não são deuses. Mas agora, conhecendo a Deus, ou, antes, sendo conhecidos por Deus, como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir? - Gálatas 4.8-9

Vede quão grande amor nos tem concedido o Pai, que fôssemos chamados filhos de Deus. Por isso o mundo não nos conhece; porque não o conhece a ele. - I João 3.1

Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus ouve-nos; aquele que não é de Deus não nos ouve. Nisto conhecemos nós o espírito da verdade e o espírito do erro. - I João 4.6

O versículo 3 de Oséias 4 também remete fortemente à Tribulação, já que cita a grande mortandade que se abaterá sobre o mundo. 

Por isso a terra se lamentará, e qualquer que morar nela desfalecerá, com os animais do campo e com as aves do céu; e até os peixes do mar serão tirados. - Oséias 4.3

A partir do versículo 4, o capitulo já toma rumos que creio serem o de um duplo sentido: exortativo (para Israel) e profético (para os judeus da Tribulação). Percebam que, mesmo reconhecendo a podridão do mundo gentílico durante a Tribulação, Deus meio que dá um "cala boca" nos judeus enfatizando que nenhum deles pode contender ou efetuar repreensão contra ninguém. E, para completar, sentencia no versículo 5 que destruirá "a mãe deles" (não "as mães"), o que imediatamente nos lembra da primeira parte deste estudo, onde vimos:

O que se entende por alegoria; porque estas são as duas alianças; uma, do monte Sinai, gerando filhos para a servidão, que é Agar. Ora, esta Agar é Sinai, um monte da Arábia, que corresponde à Jerusalém que agora existe, pois é escrava com seus filhos. - Gálatas 4.24-25

Todavia ninguém contenda, ninguém repreenda, porque o teu povo é como os que contendem com o sacerdote. Por isso tropeçarás de dia, e o profeta contigo tropeçará de noite; e destruirei a tua mãe. - Oséias 4.4-5

Quando chegamos ao famoso versículo 6, lemos sobre a rejeição de Deus a Israel, algo que resultará justamente no fato dos cristãos, e não dos judeus, serem arrebatados. 

O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento; porque tu rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; e, visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos. - Oséias 4.6

Os nove versículos seguintes são construídos em cima da declaração dada no 6, todos ressaltando os pecados de Israel. A coisa só muda de figura justamente quando nos deparamos com a segunda sentença do versículo 16: 

agora o Senhor os apascentará como a um cordeiro num lugar espaçoso.

A conclusão tirada por mim não poderia ser diferente: o artigo definido "os" se refere a "eles", não a "tu" ou "vós". Entendo, em outras palavras, que esses "os" sejam a igreja tanto quanto "o que o detém" de 2 Tessalonicenses 4.6. Sim, vejo Oséias aqui falando daqueles que, numa direção oposta ao que foi dito no versículo 6, não rejeitaram o conhecimento e não esqueceram da lei de Deus (a lei estabelecida em sua dispensação, evidentemente). Dentro da minha interpretação, o versículo seria da seguinte maneira: Porque como uma novilha obstinada se rebelou Israel; agora o Senhor apascentará a eles (os cristãos) como a um cordeiro num lugar espaçoso. E que lugar espaçoso e esse? Precisamente a mansão que cada arrebatado terá para si (também chamada de "lugar espaçoso" no salmo 19, "lugar largo" no salmo 118 e "câmara" em Isaías 26. Não custa lembrar que estamos falando do mesmo profeta que, segundo vimos no estudo anterior, lançou uma profecia em Oséias 13.14 que, por sua vez, recebeu a determinação do Espírito Santo em I Coríntios 15.54 de só se cumprir no arrebatamento. 


Finalizando o capítulo, Deus fala sobre a conduta idólatra dos governantes de Israel (que entendo ser sua aliança com o Anticristo) e um certo par de asas envolvidas por um vento que surge junto a um sentimento de vergonha (que creio piamente consistir na constatação que os judeus terão de que o messias que vinham adorando é o Anticristo, bem como a fuga para o deserto que a mulher de Apocalipse 12 faz com seu par de asas).

Efraim está entregue aos ídolos; deixa-o. A sua bebida se foi; lançaram-se à luxúria continuamente; certamente os seus governadores amam a vergonha. Um vento os envolveu nas suas asas, e envergonhar-se-ão por causa dos seus sacrifícios. - Oséias 4.17-19

E foram dadas à mulher duas asas de grande águia, para que voasse para o deserto, ao seu lugar, onde é sustentada por um tempo, e tempos, e metade de um tempo, fora da vista da serpente. - Apocalipse 12.14

Ora, quando vós virdes a abominação do assolamento, que foi predita por Daniel o profeta, estar onde não deve estar (quem lê, entenda), então os que estiverem na Judéia fujam para os montes. E o que estiver sobre o telhado não desça para casa, nem entre a tomar coisa alguma de sua casa; E o que estiver no campo não volte atrás, para tomar as suas vestes. Mas ai das grávidas, e das que criarem naqueles dias! - Marcos 13.14-17

Leandro Pereira

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